Santuário Ecológico na Tríplice Fronteira – Brasil, Uruguai, Argentina
A grandeza da paisagem é digna de um cartão postal. À medida que o barco avança pelo caudal das águas, nota-se a imensidão imponente dos maiores rios da Tríplice Fronteira – Miriñay, Quaraí e Uruguai — que se encontram e se expandem até à linha do horizonte recortando a silhueta da Ilha Brasileira.
A Ilha Brasileira está localizada na foz do rio Uruguai, entre os municípios de Barra do Quaraí (Brasil), Bella Unión (Uruguai) e Monte Caseros (Argentina).
Do ponto de vista geográfico, a Ilha Brasileira é o último pedaço de chão gaúcho, a oeste. É o pôr-do-sol do Rio Grande.
É também o símbolo da integração cultural e ambiental das populações brasileiras, uruguaias e argentinas que convivem na região e buscam sempre mecanismos de proteger e preservar o importante potencial ecológico destas terras.
Segundo uma antiga medição do Exército Brasileiro, a ilha possui 200 hectares, sendo que, na atualidade, vem sofrendo enormemente a ação dos agentes erosivos naturais e dos excessos cometidos pela ação humana, prejudicial sob todos os aspectos.
Este comentário vale em razão da represa de Salto Grande que provoca, periodicamente, uma elevação sensível no nível das águas dos rios da região.
Esta Ilha, localizada na região trinacional foi, em épocas passadas, disputada pelos Estados do Prata, devido à sua importância estratégica, pois, uma vez dominada, funcionaria como uma espécie de Posto de Abastecimentos ou de apoio logístico para as embarcações comerciais e militares em trânsito pelo rio Uruguai.
Inventário sobre a flora e a fauna da Ilha Brasileira
Com o objetivo de realizar um levantamento sobre as características de flora e fauna nativas da Ilha Brasileira, a ONG Atelier Saladero vem promovendo visitas periódicas com professores, biólogos e ambientalistas.
Em abril de 2018, professores da UNIPAMPA, do curso Ciências da Natureza, realizaram um roteiro pelas trilhas da Ilha, casa do seu Zeca, Marco Imperial, praias argentinas e o Parque Rincón de Franquia (Uruguai). Estes ambientes figuram na idéia do propeto “Corredor Biológico Trinacional” proposto pelo Movimento Transfronteiriço de ONGs a entidades e governos dos três países (Brasil, Uruguai e Argentina).
Entre os professores presentes, Ailton Dinardi, Francisco Galvani e Nestor Bohdan, relacionaram diversas atividades e estudos que poderiam ser feitos na ilha, envolvendo instituições de ensino com vistas a promover a Educação Ambiental.
ONG realiza catálogo de árvores nativas na ilha
No dia 30/10/2005, a ONG Atelier Saladero conversa com antigos moradores locais sobre seus anos de “vivência pelas matas”. Foram mais de 100 árvores catalogadas. Segue abaixo algumas delas com comentários feitos por antigos lenhadores:
- Açoita Cavalo – “Árvore sombrosa, madeira resistente, serve para fazer cabo de machado, cabos de ferramentas, enxadas, pás, é muito boa”.
- Camboatá – “Madeira simples da fronteira, brota na encosta dos rios, serve para lenha e dá um fruto que alimenta o peixe.”
- Tarumã de Espinho – “É uma árvore muito dura, conhecida também como Sombra de Touro; seu fruto é alimento para os peixes e outros animais.”
- Talera (Espora de Galo) – “Fruta miudinha e saborosa; a gente come bastante; boa para o peixe. A ramagem dela muito enrredada”.
- Mata Olho – “Essa árvore tem uma fruta que o peixe gosta muito; serve até para fazer isca; quando está bem madura tem o tamanho de um figo, tem cheiro forte. Chama Mata Olho porque a lenha faz uma fumaça ardida.”
- Ingá – “Dá nas encostas, o fruto é uma vagem. O madeiro do Ingá é muito fraco, leve, por pouca coisa o Ingá cai porque tem pouca segurança, mas brota muito pelas encostas”.
- Sangue de Grau – “Árvore comum, não se aproveita a madeira, nem sequer para lenha, porque é leve, flutua com facilidade na água. É árvore bonita, delgada, clara, comprida”
- Marmeleiro – “De tronco vigoroso e alto é boa árvore. A gente não pode cortar a árvore verde, mas quando está no chão, caída, a do Marmeleiro é boa para o fogo, para fazer carvão”.