Mexilhão Dourado infesta rios da Tríplice Fronteira

 

 

Estudiosos da "água de lastro" (Carlton e Ruiz - 2004) escrevem sobre uma das razões para o avanço do Mexilhão Dourado em nossas águas: a falta de conhecimento leva as pessoas que navegam serem as propagadoras dessa espécie. O transporte naútico é o "calcanhar da Aquiles" das bio-invasões, através dos quais o mexilhão dourado ganhou acesso a um novo habitat, muito distante da sua região nativa. A distribuição atual do molusco na fronteira mostra a importância de se conhecer a diversidade e os padrões de mecanismos do transporte humano, utilizados pela espécie invasora para atravessar barreiras naturais e alterar ecossistemas.

 

 

Após alerta da ONG, IBAMA faz relatório investigativo sobre o Mexilhão Dourado

 

 

Em fevereiro de 2007, a ONG Atelier Saladero recebeu uma equipe do IBAMA interessada em avaliar a realidade da presença do Mexilhão Dourado (Limnoperna fortunei) nas águas da Tríplice Fronteira, conforme inúmeros alertas da ONG pela imprensa.

A equipe estava composta por três analistas ambientais: o biólogo Fábio Faraco, mestrado em Malacologia (estudo dos moluscos); Kátia Aurich, agrônoma, trabalha na Divisão de Controle e Fiscalização do IBAMA de Porto Alegre, Luis Gustavo Mahler, coordenador do núcleo de educação ambiental, trabalhando com movimentos sociais.

 

Fábio André Faraco
Katia Regina Aurich
Luis Gustavo Mähler


IBAMA - Relatório Investigativo sobre a presença do Mexilhão Dourado

 

 

 

ENTREVISTA COM FÁBIO FARACO - IBAMA

 

 

Em entrevista à ONG Atelier Saladero, Fábio Faraco explicou que o Mexilhão Dourado é um mitilídio de água doce, sua origem é do sudeste asiático e já se distribuiu por uma área muito grande.

 

"É uma espécie invasora, reconhecida mundialmente, tendo os primeiros vestígios na América do Sul em torno de 89, 88 (veja a entrevista ao lado com o Prof. Gustavo Darrigran que descobriu os primeiros exemplares) num porto de Buenos Aires, em La Plata.

 

Em 99 temos o registro oficial para a Bacia do Lago Gaíba, Jacuí, Taquari e Lagoa dos Patos. Agora, temos esse primeiro registro aqui. Para a Bacia do rio Uruguai, na parte brasileira, já se conhecia desde 2000.

 

Ao ser perguntado pela ONG "qual o significado da presença do mexilhão nas águas da Tríplice Fronteira" respondeu que se confirmava uma suspeita de alguns anos.

 

"Essa espécie tem um avanço muito grande, de mês a mês avança quilômetros. Pode, através de uma barreira geográfica, que é o caso da hidrelétrica de Salto, levar de 5 a 10 anos para se fazer sentir do outro lado a montante dessa barragem.

 

Agora temos a confirmação da presença aqui, inclusive no Arroio Quarai, não só no Rio Uruguai, mas na parte mais lenta do Rio Quarai. Portanto, esse animal já tem uma área de expansão maior do que se imaginava, mas a quantidade dele presente no substrato, como troncos, pedras, grades de bombas de sucção, ainda é baixa. Não se sabe o porquê. Com mais pesquisa, investigação poderemos saber.

 

De qualquer forma é muito ruim a presença dele nas águas brasileiras, pois essa espécie invasora com o potencial que tem o mexilhão dourado altera um ecossistema".

 

ONG Atelier Saladero - Existe algum plano do IBAMA referente ao controle dessa espécie?

 

Fábio Faraco - Não. Mesmo que quiséssemos, o IBAMA ou qualquer outro órgão, não existe o controle da espécie, você não controla esse tipo de invasor, os moluscos com o potencial que tem o mexilhão, você não controla, você monitora. Uma vez que ele entrou neste ecossistema ele vai ser mais um animal parte da fauna brasileira.

 

O que se pode fazer? É informar as pessoas, esse é o nosso grande objetivo: que elas saibam conviver com a espécie, saibam co-habitar com ela e fazer com que outros ecossistemas, ainda não afetados, sejam preservados, porque somos nós que transportamos o mexilhão.

 

Não podemos esquecer que ele não voa, não corre, não nada. Ele é transportado através de atividade humana, nós somos culpados por ele estar aqui, agora. Nosso plano é informar os usuários de algum recurso hídrico como conviver com a espécie.



 

 

A pesca esportiva do Dourado nos rios da Tríplice Fronteira




O "Caso da Ilha Brasileira"




Um execelente estudo intitulado "O Caso da Ilha Brasileira" de autoria do Coronel Wilson Ruy Mozzato Krukoski encontra-se na página Fronteiras e Limites do Brasil da Segunda Comissão Brasileira Demarcadora de Limites, do Ministério das Relações Exteriores.

 

Fronteiras e Limites do Brasil

 

O Capincho na ilha

 

 

Capincho na barranca! Na Ilha Brasileira você pode avistar o Capincho (capivara), o maior roedor vegetariano do mundo. É nativo das Américas do Sul e Central. Seu habitat natural é ao redor de rios e lagos. O melhor lugar são as várzeas e áreas alagadas. Adultas, as capivaras chegam a 80 quilos. No Rio Grande do Sul, esses animais são chamados de "capincho"..

Uma das faculdades da capivara é a sua capacidade de permanecer submersa na água para se defender de predadores..



Muito além do que se vê

 

 


O Mexilhão Dourado nas águas da Tríplice Fronteira


Em 2004 a ONG Atelier Saladero (Barra do Quaraí) lançou diversos alertas às autoridades brasileria sobre a presença e o avanço do Mexilhão Dourado (Limnoperna fortunei) em nossos rios, especificamente, rio Uruguai e rio Quarai.

 

Esse alerta, entretanto, não econtrou eco. Praticamente nada foi feito pelos órgãos nacionais com o objetivo de conscientizar a comunidade ou conter a invasão biológica do molusco.

 

Ele tem apenas 4 centímetros, mas tem o potencial de parar uma cidade, causando a suspensão do fornecimento de energia elétrica ou de água. Na verdade, ele já é a causa de muito prejuízo, tanto econômico como ambiental

 

Conforme o estudo do Prof. Gustavo Darrigran, a dispersão do Mexilhão Dourado pela bacia do Prata se realiza "contra a corrente, a uma velocidade de 240 km/ano, afetandos os países membros do Mercosul".

O estudo do Prof. Darrigram pode ser solicitado à ONG Atelier Saladero através do formulário ao fim desta página.





Um "tapete" de mexilhões na bacia do Rio Quaraí! - O pescador e militante da ONG Atelier Saladero, Jairo Daniel, mostra as pedras "coalhadas" de mexilhão dourado às margens do rio Quaraí. "Quando as águas descem, a gente anda por aqui pisando num verdadeiro tapete desses moluscos. É impressionante como surgiram... em pouco tempo tomaram conta de muito espaço", afirma.



O Mexilhão Dourado aparece cobrindo as pedras às margens do rio Quaraí. O pescador que desconhecia "a praga da globalização" hoje convive com ela. "A partir del año 1991 se regista en Argentina, y por primera vez en Amércia del Sur, a presencia de un mejillón de agua dulce. Esta especie, al igual que sus parientes marinos, vive fija a los sustratos duros. Limnoperna fortunei (mejillón dorado) ocupa un nicho vacante en los ambientes de agua dulce de América del Sur. Desde entonces, el impacta tanto el ambiente natural -- cambio de dieta en peces, despazamiento de especies nativas -- como humanos" (Gustavo Darrigran y Maria Cristina Damborenea).



 

 

"Na Ilha Brasileira, localizada na confluência dos rios Quaraí e Uruguai, é visível o volume “absurdo” de mexilhões dourados, entranhados nas raízes expostas das árvores. A infestação consome a flora e provoca danos aos motores de barcos. De acordo com Argemiro Rocha, Presidente da ONG Atelier Saladero, a situação de desequilíbrio evidente do meio ambiente não recebeu resposta de autoridades brasileiras. Ele explica que os barrenses buscaram na Universidade de La Plata, na Argentina, por meio do especialista Gustavo Darrigran, respostas aos fenômenos com a realização de análises que apontem a oxigenação das águas, adaptação e transformação dos moluscos, além do envio de amostras do próprio mexilhão. Darrigran foi quem identificou essa espécie vinda da Ásia em Buenos Aires" ( por Silvana Losekann).



Entrevista com Gustavo A. Darrigran
e Maria Cristina Damborenea

 



O alerta da ONG Atelier Saladero sobre a presença do Mexilhão Dourado nas águas da Tríplice Fronteira atraiu a atenção de muitos estudiosos. A entidade recebeu duas grandes autoridades no assunto: Dr. Gustavo A. Darrigran, da Universidad Nacional de La Plata, o primeiro estudioso a detectar a presença do Mexilhão Dourado na América do Sul e Maria Cristina Damborenea, Doutora em Ciências Naturais. Ambos escreveram a obra “Bio-invasión del Mejillón Dorado en el Continente Americano”, uma referência completa sobre o tema.



Darrigran relatou que “desde 2006 está pesquisando em Monte Caseros, Argentina, a presença do Mexilhão Dourado no rio Uruguai. Graças à informação que nos chegou por Luis Mujica (integrante do Movimento Transfronteiriço), ficamos sabendo da presença do Mexilhão Dourado aqui em Barra do Quaraí. Viemos, então, estudar o seu nível de expansão”.


ONG Atelier Saladero - Pelo que sabemos, o sr. foi quem detectou pela primeira vez exemplares do Limnoperna fortunei na América do Sul. Poderia contar como aconteceu?

Gustavo Darrigran - O Mexilhão foi detectado por nós nas margens do rio da Prata, em 1991, proveniente da Ásia. A povoação dos moluscos era inicial, com 4 ou 5 indivíduos por metro quadrado, grudados em rochas, num balneário da província de Buenos Aires. Esses exemplares, 4 ou 5 por metro quadrado, tinham o tamanho de 1 centímetro, revelando que há um ano já estavam na região. Portanto, ingressaram naquele ecossistema em 1990.


O notável é que, um ano depois, esses 4 ou 5 indivíduos, aumentaram a densidade e, no mesmo lugar, nas mesmas pedras, chegaram a 30 mil indivíduos por metro quadrado. Dois anos depois, esse número passou a 80 mil indivíduos por metro quadrado chegando até a um pico de 150 mil. Isto dá uma idéia da capacidade reprodutiva e adaptativa da espécie. E se a isto somarmos que está indo contra a corrente da bacia do Prata, a uma velocidade de 240 km por ano, faz desta espécie uma praga invasora perigosa. Um dos problemas: entupir os tubos e filtros usados para a retirada da água dos rios.

 

ONG Atelier Saladero - Há como controlar?

Gustavo Darrigran - Uma força tarefa para controlar um avanço tão rápido pela bacia do Prata deveria ser feita desde o início. Ou seja, em cada localidade onde pela primeira vez se encontra é preciso estabelecer uma força tarefa local e regional. Nós intentamos através da Universidade Nacional de La Plata com um programa de educação sobre o problema. No Brasil, o IBAMA e o Ministério do Meio Ambiente estão empenhados em formar uma força tarefa, uma agrupação de agentes comunitários, docentes e investigadores. Acredito que o Brasil está encabeçando essa reação no contexto dos países Uruguai, Argentina e Paraguai.

ONG Atelier Saladero - O que foi detectado, hoje, nas águas da Tríplice Fronteira?

Gustavo Darrigran - Estivemos com Jairo, pescador integrante da ONG, percorrendo vários pontos do rio Uruguai até o chegarmos no encontro com o rio Meriñae. Nesse local, jogamos um gancho e tiramos muitos exemplares de Mexilhão Dourado que se encontravam no fundo do rio, numa profundidade de 3 metros. Esse fundo era arenoso e as raízes das plantas estavam tomadas por grande quantidade de Mexilhão Dourado.

ONG Atelier Saladero - O que revela essa descoberta?

Gustavo Darrigran - Esperávamos encontrar uma povoação inicial de assentamento. Percebemos que é uma povoação muito densa e há muito tempo está aclimatizada no local e adaptada ao ambiente. Os pescadores nos disseram que pelo menos há dois anos se encontra neste ecossistema. Mas, pelo tamanho dos exemplares que coletamos posso dizer que há três anos estão se multiplicando por aqui.

ONG Atelier Saladero - O Sr. gostaria de acrescentar algo?

Gustavo Darrigran - Desejo acrescentar que, nesta região da Tríplice Fronteira, onde três países estão em jogo, é importante fazer investigações sempre tendendo a conseguir uma prevenção e um controle deste novo problema econômico e ambiental para a água doce da América do Sul, algo que era conhecido unicamente nas costas marinhas, não na água doce. Assim todos os sistemas que captam a água doce, na região, não estão preparados para suportar esse problema. Daí ser um problema econômico muito grave. Por outro lado, há uma destruição dos moluscos nativos por parte do Mexilhão Dourado ocasionando um impacto ambiental muito grande. Também porque serve de alimento extra para os peixes e alguns já mudaram de alimento por causa da grande quantidade de mexilhão nos rios.

 

Dra. Maria Cristina - Quero apenas agregar que estamos trabalhando há muitos anos com o Mexilhão Dourado e observando como avança pelos rios. Na Argentina, o ponto mais ao norte era Monte Caseros. Agora, essa povoação segue avançando. Esse avanço tem um componente muito importante: a atividade humana na região. É preciso prestar atenção na forma como se amplia a distribuição da espécie na região e encontrar uma forma de difundir o problema, a questão e fazer com que as pessoas conheçam essa nova espécie que está em nossas águas.



VÍDEO - Fevereiro de 2012 - Reportagem da RBS mostra o "tapete" de Mexilhão Dourado nas águas do Rio Quarai e o alerta da ONG Atelier Saladero sobre a ameaça que o molusco representa para as lavouras da região.

O Prof. Gustavo Darrigram observa uma ausência de "madurez intelectual y operativa" nas investigações sobre o impacto das invasões aquáticas.

 

A maioria destas investigações apenas descrevem os impactos ou são estudos sobre as consequências em diferentes espaços e tempos. O único que se faz é referir-se sobre o que já se sabe ou se assume. Ao analisar as Atas da Conferência Internacional sobre Espécies Invasoras Aquáticas, realizadas em Washington, em 2002, 62% dos trabalhos ali apresentados foram sobre impactos ou efeitos econômicos-ecológicos e aspectos referidos a controle e tratamento.

 

Quer dizer, se descreve o problema e logo se indica o que fazer nesses casos; isto é investigação reativa ou curativa. Entre nós, existe uma marcada deficiência nesse tipo de investigação...


 

 

 

Acordo de Cooperação Científica entre ONG brasileira e universidade argentina para monitorar o Mexilhão Dourado



No dia 8 de outubro de 2007, Dr. Gustavo Darrigran (Professor da Cátedra Biologia de Invertebrados da Universidad Nacional de La Plata e Dra. Maria Cristina Damborenea (Chefe da Divisão Zoologia Invertebrados) reuniram-se, em Bella Unión, com a Diretoria da ONG Atelier Saladero e assinaram um acordo para integrar esforços e ações de cooperação científica num projeto de investigação sobre o mexilhão dourado (limnoperna fortunei) nas águas da Tríplice Fronteira.



Segundo o projeto, a introdução dessa espécie é, na atualidade, a segunda principal causa de danos à biodiversidade global e trás como conseqüências numerosos problemas econômicos e sociais.

Entre as invasões aquáticas mais destacadas se encontra a do bivalvo Limnoperna fortunei, detectada em 1991, nas costas argentinas do Rio da Prata. Essa espécie, devido às características biológicas próprias, conseguiu espalhar-se rapidamente na bacia do Prata, depois sobre o rio Paraná, chegando até São Paulo. Avançou sobre o rio Paraguai, até o Pantanal e por último surgiu no rio Uruguai, tendo sido detectada, pela ONG Atelier Saladero, nas águas da Tríplice Fronteira.



"O conhecimento sobre a bioinvasão aquática é escasso. Desconhecemos os aspectos relacionados tanto à composição como ao processo de invasão desse molusco.

"Estamos fazendo uma investigação do mexilhão desde que ingressou na América do Sul, em 1991, no rio de La Plata, Argentina, até hoje. Sabemos que esse organismo vem avançando 240 km por ano, contra a corrente. E nosso objetivo é estudar como devemos prevenir e controlar a espécie que causa muitos problemas ambientais, sociais e econômicos", afirmou o Prof. Gustavo Darrigran.


Mexilhão Dourado no artesanado




Para conscientizar sobre a importância do Mexilhão Dourado a ONG Atelier Saladero promoveu diversos projetos artísticos que aproveitavam exemplares secos do molusco.


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O semanário "A Ponte" circula em todo o município da Barra do Quaraí, Bella Unión (Uruguai) e Monte Caseros (Argentina).